mercredi 25 février 2009

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Ranhuras, falhas, frestas. O homem percebe, ele pode sentir. Ele a sente em cada passo. Ele a sente na pele. A cidade o olha e indaga – perguntas que ninguém consegue escutar e para as quais, talvez, não haja respostas. Casas, praças, edifícios, avenidas, becos – a cidade é feita de tempo e este presente não habita o homem. As memórias e os fantasmas nas janelas são o futuro. Não lhe é permitido atravessar a cidade, mesmo quando todos os sinais estão verdes. Quando isso acontece, a cidade o atravessa e desaparece.



Fragmento três

Pequenas estórias são contadas sobre ela. Umas dizem que ela é uma meretriz, outras dizem que ela é um homem de negócios. Há outras que falam de localizações e pessoas desaparecidas. Muitas delas se repetem com variantes locais ou temporais. Tais estórias dependem de quem as narra. Se quem as conta é um homem, uma mulher, um velho ou uma criança. As palavras soarão, ferirão e causarão júbilo de modos diversos. Às vezes chegam até nós na voz de um ancião cego e perdido nas memórias de um tempo a que não mais lhe permitido ver. Ninguém nunca saberá quem ela é, nem nunca a tocará na sua plenitude. Para ela não há promessas a serem cumpridas.

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